terça-feira, 12 de maio de 2009

O Surrealismo Musical de Madonna

Em 2007, escrevi o texto abaixo, intitulado O Surrealismo Musical de Madonna, para a revista Madonna by MInsane, em comemoração aos 10 anos de lançamento de um dos melhores álbuns da Madonna, Ray of Light. Vamos ao texto:

Há 10 anos, em 1998, Madonna lançava o seu álbum mais surreal. Depois de vários anos sem lançar um disco de músicas totalmente inéditas, a diva nos traz uma
obra-prima musical. Na primeira vez em que ouvi Ray of Light, senti como se estivesse adentrando nas pinturas surrealistas do grande mestre Dalí.

Cheio de sons, ritmos, detalhes, formas, tudo reunido harmonicamente e interpretado por uma voz mais doce, forte e afinada. Ouso afirmar que cada música de Ray of Light é a interpretação musical de pinturas de Salvador Dalí, o representante máximo do surrealismo. Ouso ainda mais pedir aos caros leitores que peguem seu cd Ray of Light para ouvir enquanto lêem este artigo e comprovar o que escreverei a seguir.

A Metamorfose de Narciso abre a viagem musical de Madonna. Logo na primeira canção (Drowned World/Substitute For Love), Madonna declara que não é mais a mesma. Ela olhou-se nas águas límpidas do lago e decidiu que era hora de se reinventar (mais uma vez), de ‘metamorfosear-se’ – “and now I find I’ve changed my mind”. E convida a todos os seus fãs e admiradores a viajar com ela. Mas, para seguir nesta viagem, têm que se transformar também, e ir ao fundo do oceano para lavar sua alma – “gonna swim to the ocean floor. So that we can begin again. Wash away all our sins” - e ir em busca dos seus desejos. Como o Homem de Compleição Enferma Escutando o Barulho do Mar, desejando sair da sua forma petrificada e
alcançar o mar, o fundo do mar e, assim, a luz.

A luz que ilumina e nos faz deixar a loucura do dia-a-dia para trás e, à nossa frente, apenas o horizonte iluminado, como o d’A Mesa Solar. Onde o universo inteiro se resume nesse horizonte
de paz, de tranqüilidade, que faz-nos sentir como se estivesse em casa – “and I feel like I just got home”. Chegar em casa, longe de todas as insanidades do mundo e lhe encontrar, ver seu corpo nu e admirá-lo e te imaginar Nua Sobre um Chão de Rosas – “moist warm desire. Fly to me”. Chegar em casa e poder admirar o seu semblante forte, sua sensualidade, sentir o doce perfume que exala do seu corpo, de suas costas nuas e, assim, poder viajar na sua pele, no seu sexo.

E Madonna vai mais longe. A cada faixa, ela penetra cada vez mais fundo no íntimo humano. Ela quer mais, quer tocar sua pele, beijá-la, tocá-la. Torná-lo O Grande Masturbador de seus sentimentos. Ela quer que você queira mais, sempre mais – “why do you leave me wanting more?” – e se conheça tão profundamente que possa chegar ao que realmente importa. E na busca pelas ruínas antropomórficas, Gradiva/Madonna encontra muito mais.
Ela encontra o mais importante dos sentimentos, aquele capaz de transformar o passado e acabar com a escuridão em nossos corações: o amor. Na sua busca incessante, finalmente, ela encontra o que de fato é necessário: amor – “love is all we need”. E ao encontrar o amor, ela encontra o paraíso, pois foi o que o sábio disse e ela segue o sábio e quer que também o sigamos, quer que levantemos vôo, assim como ela levantou e, Um Segundo Antes de Despertar, deixou os julgamentos para trás e seguiu em frente, observando e aprendendo – “watching the signs as I go”.

E ela foi longe para aprender, voltou anos e anos até chegar às Reminiscências Arqueológicas das línguas mais antigas. Ela descobriu o sânscrito e sobre ele, meditou. “Vande”. E Madonna avisa aos ‘desantenados’: saia o mais rápido possível deste Sono letárgico e deixe o amor lhe encontrar também. Se você sustenta suas crenças no que apenas você vê – “You´re so consumed with how much you get. You waste your time with hate and regret” - está na hora de acordar, de esquentar seu coração, deixar a dor morrer e aprender a dizer adeus.


A viagem musical está quase no fim e é preciso dar adeus às Memórias que persistem em enfraquecer e fechar seu coração. Então, diga adeus ao passado e dê espaço ao que
está por vir – “freedom comes when you learn to let go”. Às vezes, o que se procura está diante dos olhos, mas a chance não é dada e o objeto de desejo torna-se Invisível. Às vezes, o que precisamos é muito simples. E Madonna a encontrou em uma pequena estrela – “my life, my soul”, em uma estrela dentro dela mesma. E nela, encontrou a si mesma, encontrou a verdadeira Madonna.

E valeu a pena fazer toda esta viagem, ir ao céu e ao fundo do oceano. Ir à floresta, ao cemitério, fugir do trânsito e do silêncio e ainda assim, continuar correndo, pois a viagem nunca termina. É sempre um Jogo cheio de peças e obstáculos
a serem vencidos. Sempre temos mais a aprender e Ray of Light é assim, um álbum que sempre tem mais a entender.

Ray of Light é uma viagem sem fim. Surreal e sem fim. “I tasted the rain, I tasted my tears. I cursed the angels, I tasted my fears and the ground gave way beneath my feet and the earth to me in her arms”.





Para ler a revista completa, faça o download no site http://issuu.com/christhered/docs/madonnabyminsane2008.

A revista é uma publicação anual, do Madonna Insane Fan Club, o fã-clube oficial da Madonna no Brasil e o maior da América Latina. Quem assina o editorial da revista é o jornalista Rodrigo Checchia e o projeto editorial é de autoria da The Red (nós!!!!).

Inclusive, já estamos trabalhando na edição 2009!!!! Em junho, no ar!!!

Red Kisses,

Chris (e Madonna com seu incrível álbum Ray of Light)

Imagens: Salvador Dalí

Um comentário:

Iarinha disse...

Adoro essa matéria Chris, muito bem linkada com o disco. bjs