quinta-feira, 12 de agosto de 2010

J. Carlos: um designer brasileiro a frente do seu tempo.

O texto a seguir foi escrito para o Bloco Profusão da minha pós em Artes Visuais sobre a obra de J. Carlos.

Antes de analisar a obra em específico (ao lado), capa da revista Para Todos Nº 436, de 23 de abril de 1927, acho interessante fazer uma análise comparativa das obras criadas por J. Carlos para a revista Para Todos, no intuito de entender melhor como funciona a nova linguagem gráfica apresentada na capa já mencionada, assim como, a dualidade ordem/desordem.

Observando o acervo das capas, no site www.jotacarlos.org, percebe-se que nas primeiras capas criadas (como nas três apresentadas abaixo), o traço era mais limpo, com um estilo mais clássico, focado em uma mulher mais romântica e sem um apelo sexual forte:
Depois, J. Carlos muda o seu traço, tornando-o mais moderno, mas a mudança que vejo mais importante é a forma como ele usa as cores para dar uma sensação de confusão, de desordem. Esta é a primeira sensação que tive vendo as várias capas criadas por ele. Alguns exemplos:


Minha primeira ideia é que a profusão de cores forma uma massa uniforme, mas é só impressão, pois diante desta aparente ‘desordem de cores’ está uma composição  harmônica entre cores, elementos e formas.

Observa-se também que o estilo clássico e romântico das primeiras capas se perdeu, as mulheres destas novas capas são mais sensuais, poderosas e independentes.
As capas possuem um estilo mais festivo e um forte apelo sexual, caracterizado pela transformação das personagens femininas em objetos de desejo
.

Na capa em estudo, observa-se todos estes aspectos. A mistura de cores fortes e neutras dão uma primeira impressão de caos, mas a aparente desordem, na realidade, é uma composição harmônica de elementos que se fundem para transmitir uma ideia principal.

Os homens unidos traz o estilo de J. Carlos citado nos parágrafos anteriores: a transformação da mulher em objeto de desejo, enquanto a mulher transmite o aspecto de independência e poder, mas ainda assim, sensual, deixando para trás a ideia de uma mulher romântica a espera do marido para casar-se e ter filhos.

No aspecto espacial, a massa humana forma um triâgulo de cabeça para baixo e a mulher, um retângulo.
Assim, temos a representação dos símbolos feminino e masculino. Os homens formando o símbolo representante da mulher, por consequência, a ideia do objeto de desejo masculino. A mulher, o símbolo fálico masculino, e aqui imagino duas ideias.

Primeiro, a crescente independência feminina, o desejo feminino de ter o seu papel na organização social tal qual os homens, deixando para trás a ideia da mulher de casa. Mas também imagino se não haveria também a ideia paralela da mulher que quer ser poderosa e independente, mas ainda deseja o casamento com o homem perfeito.

J. Carlos trabalhou muito bem a ideia de profusão na criação desta capa. Primeiro, com a mistura de cores que dão uma inicial ideia de desordem, mas que se percebe falha com uma atenção mais aprimorada. Segundo, uma profusão de ideias escondidas no desenho criado, da dualidade masculino/feminino.

J. Carlos foi um designer a frente do seu tempo, nos anos 20, soube por meio da sua arte transmitir ideias polêmicas e avançadas para a época com criações fortes, modernas e com o uso de cores incríveis e traços marcantes.


Red Kisses,
Chris

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