O texto “Passagens da Fotografia” propõe uma reflexão sobre o fazer fotográfico atual, tomando como ponto de partida uma de suas questões fundadoras, que sempre permeou os debates e ainda estimula a produção e o pensamento fotográficos. Essa questão diz respeito à própria definição da fotografia: o que a caracteriza enquanto prática e linguagem no contexto das artes visuais e dos demais saberes humanos?
Segundo nos explica Antonio Fatorelli, as possibilidades de resposta a essa questão, inaugurada no século XIX, já se deram marcadas por duas tendências. Uma purista, que tenderia a defender a autonomia da fotografia com relação a outras práticas e a definiria como reflexo da realidade através dos procedimentos próprios ao meio. Outrapluralista, que trataria de assimilar uma prática aberta às influências da pintura e de outras formas de expressão e teria introduzido um maior grau de experimentação técnico-formal e questionamento de seu índice de realidade.
A partir do delineamento dessas duas tendências, uma série de análises comparativas entre importantes fotógrafos nos orienta pelo desenvolvimento da fotografia até a produção mais atual. Com Emerson e Robinson, vimos como esse debate envolveu diferentes noções de veracidade e artifício no âmbito de uma busca comum por realismo; com Stieglitz e Man Ray, a recusa e a adesão à hibridização constituíram direções divergentes dentro de um mesmo interesse pela lógica subjacente das imagens; e com Meyerowitz e Fleischer, a virtualização contemporânea se apresenta em distintas ênfases, por um lado como um novo “sublime natural”, por outro lado como a radical dessubstancialização da fotografia.
Hoje, as redes e os recursos eletrônicos são meios de produção estética e de múltiplas experiências espaço-temporais, e a desmaterialização de processos e produtos transforma continuamente a nossa relação com os objetos e as imagens. Nesse contexto, como fica a antiga questão sobre o índice de realidade da imagem fotográfica?Parte significativa do fazer fotográfico recente tem evidenciado que as experiências que fazemos do real estão sempre, em alguma medida, misturadas ao aparente, ideal, ilusório ou suposto, isto é, são inseparáveis de uma dimensão virtual. E a recíproca também é verdadeira: experimentamos o virtual sempre em diálogo com o que conhecemos como real – lembre-se, por exemplo, do que acontece em sonhos, na imaginação ou em simulações eletrônicas.
Essa é uma lição que podemos extrair da obra dos contemporâneos Meyerowitz e Fleischer, já que o primeiro mostra um real filtrado pelo virtual, enquanto o segundo trabalha um virtual colado ao real. Poderíamos afirmar coisas semelhantes sobre as obras de Cindy Sherman e Laurie Simmons. Procure conhecer mais a respeito das produções desses quatro fotógrafos acessando-as na Internet ou em qualquer fonte à sua disposição.
Reflita: como essas obras lidam com a tensão entre “natureza” e “artifício”?
Aproveite para fazer a si mesmo esta pergunta: como o seu próprio trabalho articula as dimensões do real e do virtual, que inseparavelmente constituem as imagens?
O desenvolvimento do “virtual tecnológico” tem colaborado para uma crescente virtualização da fotografia, mas o interesse dos fotógrafos no vínculo real/virtual é anterior à expansão dos circuitos eletrônicos, pois surgiu junto com os primeiros recursos fotográficos, como vimos com Robinson. Outro fotógrafo que prefigurou as experimentações e a plena virtualização do momento atual foi Man Ray. Faça uma pesquisa mais ampla de imagens e textos sobre a obra desse artista que, além de fotógrafo, foi cineasta e pintor – e lembre-se dos dois trechos de seu filme “O retorno à razão” incluídos no CD-ROM. Observe a sua variada produção, sempre envolvida nas possibilidades da arte como meio de acesso ao inconsciente.
Fatorelli menciona três aspectos que seriam característicos das imagens na contemporaneidade: o descentramento, a desconexão com o aqui/agora e o trânsito entre diferentes suportes.Como poderíamos relacionar esses aspectos à obra de Man Ray?
Nesse fórum debata com seus colegas alguns significados e exemplos desses três aspectos na produção de Man Ray.
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Não querendo entrar no mundo Freudiano, mas já que o mesmo foi citado no texto analisado, Passagens da Fotografia, de Antonio Fatorelli, em diversos momentos, por exemplo, na página 02:“fortemente ancoradas na subjetividade do artista, que encontram seu correlato nas várias grades modernistas e no modelo de inconsciente proposto pelas correntes psicanalíticas centradas nas contribuições de Sigmund Freud.”
Também na página 07: “Ao apontar para uma engenharia da interioridade do sujeito e para uma lógica subjacente das imagens, o conceito freudiano de inconsciente está no cerne da produção”. E na página 16: “Acolhendo o método de análise defendido por Freud, em especial o lugar de prioridade que este concedeu à realidade psíquica e ao sonho como expressão do inconsciente, Breton defende, no seu primeiro manifesto, a superação das antinomias que segregam a realidade cotidiana do universo onírico.”
Sempre que analisamos a história da arte, é inevitável que este jogo de psique, sentimentos, duelos e contradições estejam presentes, pois é parte da nossa natureza, questionar, incomodar-se e incomodar, criticar, ir no caminho oposto. Assim é construída a história da Humanidade, assim é construída a história das Artes Visuais e o campo da fotografia não ficaria de fora. E este é um dos aspectos que caracteriza a fotografia enquanto prática e linguagem nas artes visuais. Desde a invenção da câmera fotográfica, fotógrafos/artistas buscam novas formas de imortalizar o que se vê, o que se vive, transformar nossas memórias em imagens reais. Hoje, mais do que nunca, fotografamos, uma câmera fotográfica é essencial em qualquer aparelho celular que se preze.
No Iphone, o Instagram [1] é um dos aplicativos mais baixados na App Store. E todos buscam não apenas fotografar o real, mas transformar a realidade fotografada.
Hoje, observamos a busca por lentes para a câmeras fotográficas que distorcem a realidade. Vide as fotos abaixo da Monjardim Noleto Fotografia [2]. Não busca-se apenas eternizar o momento, mas transformar este momento por meio de uma imagem distorcida da realidade.
Não querendo entrar no mundo Freudiano, mas já que o mesmo foi citado no texto analisado, Passagens da Fotografia, de Antonio Fatorelli, em diversos momentos, por exemplo, na página 02:“fortemente ancoradas na subjetividade do artista, que encontram seu correlato nas várias grades modernistas e no modelo de inconsciente proposto pelas correntes psicanalíticas centradas nas contribuições de Sigmund Freud.”
Também na página 07: “Ao apontar para uma engenharia da interioridade do sujeito e para uma lógica subjacente das imagens, o conceito freudiano de inconsciente está no cerne da produção”. E na página 16: “Acolhendo o método de análise defendido por Freud, em especial o lugar de prioridade que este concedeu à realidade psíquica e ao sonho como expressão do inconsciente, Breton defende, no seu primeiro manifesto, a superação das antinomias que segregam a realidade cotidiana do universo onírico.”
Sempre que analisamos a história da arte, é inevitável que este jogo de psique, sentimentos, duelos e contradições estejam presentes, pois é parte da nossa natureza, questionar, incomodar-se e incomodar, criticar, ir no caminho oposto. Assim é construída a história da Humanidade, assim é construída a história das Artes Visuais e o campo da fotografia não ficaria de fora. E este é um dos aspectos que caracteriza a fotografia enquanto prática e linguagem nas artes visuais. Desde a invenção da câmera fotográfica, fotógrafos/artistas buscam novas formas de imortalizar o que se vê, o que se vive, transformar nossas memórias em imagens reais. Hoje, mais do que nunca, fotografamos, uma câmera fotográfica é essencial em qualquer aparelho celular que se preze.
No Iphone, o Instagram [1] é um dos aplicativos mais baixados na App Store. E todos buscam não apenas fotografar o real, mas transformar a realidade fotografada.
Hoje, observamos a busca por lentes para a câmeras fotográficas que distorcem a realidade. Vide as fotos abaixo da Monjardim Noleto Fotografia [2]. Não busca-se apenas eternizar o momento, mas transformar este momento por meio de uma imagem distorcida da realidade.
Além disso, o autor introduz-nos a três conceitos: descentramento, desconexão com o aqui e o agora e trânsito entre os suportes [3]. e como proposto no questionamento deste fórum, o objetivo é associar as obras de Man Ray a estes três conceitos.
Primeiramente, faz-se necessário entender cada um deles. Para isso, vou utilizar a tríade apresentada por Fatorelli, das três imagens mas com adaptações.
Primeira imagem ou Descentramento
O trecho “o sentido da imagem passa a depender exclusivamente da participação do observador, da intencionalidade do criador e do seu próprio poder projetivo”, [4] para mim, é o que melhor conceitua esta ideia de descentrameto. Quando o foco da imagem deixa de ser uma transposição fiel da realidade, acontece uma descentralização do conceito principal e este pode assumir a forma que o seu observador desejar. o artista transfere para o público o poder de conceituar sua obra conforme a própria imaginação. A obra Self-Portrait Assemblage, de 1916, de Man Ray, encaixa-se neste conceito.
Geralmente, quando pensamos em auto-retrato, o imaginamos com o aspecto humano do artista. Man Ray se representou nesta obra por meio de objetos e transferiu para o observador a conceitualização dos elementos, a forma como podemos imaginar como ele se vê.
Segunda imagem ou Desconexão com o aqui e o agora
Cito o trecho “impõem um afastamento da noção de natureza como realidade a partir da qual se constituiria a imagem reflexo.”, [5] como o que melhor define este segundo conceito. O ato de fotografar se desconectou do momento presente, com a realidade vigente. Não fotogramos mais apenas o que vemos, mas o que podemos ver e imaginar. Para isso, os novos artistas criam cenários e situações com finalidades estritamente fotográficas.
Terceira imagem ou Trânsito entre os suportes
Por fim, o terceiro conceito apresentado por Fatorelli, o de trânsito entre os suportes. No texto, retiro o trecho “No âmbito da crítica da imagem, a categoria fotografia foi redefinida de modo a incorporar as mutações em curso. Fixado pelo ideário modernista em função da separação entre os diferentes meios de expressão, o conceito de fotografia foi estendido com vistas a abrigar formas limítrofes e híbridas.”, [6] como o que melhor denomina este conceito. Fotografar tornou-se um ato de misturar técnicas, ideais, sair do básico e buscar novas formas de realizar a arte da fotografia. E é neste conceito que eu vejo a melhor conexão das obras de Man Ray.
Man Ray foi um grande inovador nesta área. Com as técnicas de solarização e os “rayogramas”, ele reinventou a fotografia e ultrapassou os limites até então impostos a este campo artístico. E aqui, vejo muitos exemplos de obras. Abaixo, algumas delas:
Untitled Rayograph (Net and Shavings), 1924 |
Sleeping Woman, 1929 |
Calla Lilies, 1930 |
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